O crescente interesse na prevenção de doenças e no aumento da longevidade com qualidade de vida aumentou a procura de alimentos que tragam benefícios à saúde. E quando falamos em saúde e vinho o Resveratrol não fica de fora.
O vinho tem sido classificado como um produto bioactivo, devido ao seu alto teor em compostos fenólicos, pelo que tem sido sugerido que o seu consumo moderado tem potenciais efeitos benéficos para a saúde do consumidor. A designação do vinho como sendo um alimento antioxidante conduziu a um aumento no seu consumo e à promoção dos antioxidantes como objecto de marketing.
O que são antioxidantes?
Os antioxidantes alimentares são um conjunto heterogéneo de substâncias formadas por vitaminas, minerais, ácidos gordos, peptídeos, pigmentos naturais e outros componentes animais ou vegetais que bloqueiam o efeito prejudicial dos radicais livres e neutralizam espécies oxidantes. Podemos encontrá-los maioritariamente em alimentos vegetais, o que explica parte das acções saudáveis que estes exercem nos organismos. Podemos então considerar que, numa perspectiva biológica, o termo antioxidante significa inibidor da oxidação de componentes celulares, e em particular de biomoléculas. Esta oxidação resulta de reacções metabólicas e é agravada por factores exógenos, como por exemplo, poluição, stress e radiações ionizantes, sendo frequentemente mediada por espécies designadas por radicais livres.
O que são radicais livres?
Os radicais livres são moléculas ou átomos com um electrão não emparelhado na última camada de valência, o que lhes confere elevada reactividade. São gerados diariamente como resultado das nossas reacções metabólicas mas formam-se e acumulam-se quantidades excessivas quando nos expomos a ambientes poluídos, tabaco, má alimentação, radiação e quando o nosso organismo está debilitado. No entanto, estes radicais são indispensáveis na defesa contra infecções, actuando como agentes bactericidas, fungicidas e antivirais. Os radicais livres são essenciais à vida mas, quando em excesso, causam danos (stress oxidativo) e aumentam o risco de doenças cardiovasculares, Parkinson, AVC, Alzheimer, esclerose múltipla e envelhecimento celular.
O nível saudável de radicais livres atinge-se através de um equilíbrio entre as reacções que os formam e a sua neutralização por antioxidantes endógenos e exógenos, nomeadamente os provenientes da dieta. Quando há um aumento dos radicais livres e uma diminuição dos agentes antioxidantes, o nosso organismo é muito prejudicado, ficando num estado de stress oxidativo (Molyneaux, 2004; Huang et al, 2005). Este é um dos motivos para que a nossa alimentação seja rica em substâncias que inibem a oxidação de moléculas biológicas importantes, ou seja, rica em antioxidantes.
Os antioxidantes presentes no vinho podem actuar como agentes redutores, sequestradores de radicais livres, inibidores de enzimas ou quelantes de metais. A maioria dos efeitos biológicos destes compostos está relacionada com a sua actividade antioxidante (Velioglu et al,1998; Wang, 2005).
As características nutricionais, funcionais e agrícolas do vinho são responsáveis pelo aumento do interesse neste alimento nas últimas décadas. No entanto, registos históricos mostram que o uso medicinal do vinho pelo homem é uma prática milenar. Povos ocidentais, como os egípcios, os gregos e os romanos, utilizaram o vinho como um remédio para o corpo e para a alma.
Dos Séc. XVII ao XIX, o vinho foi considerado como agente promotor de bem-estar e saúde intensificando-se os estudos e prática na medicina em geral. No entanto, a partir do Séc. XX, estudos epidemiológicos comprovaram os benefícios deste produto alimentar para a saúde, correlacionando inversamente a ingestão moderada de vinho e a incidência de doenças cardiovasculares. Este estudo foi chamado de Paradoxo Francês. O tipo de alimentação e de vida dos franceses, rica em excessos, desde o consumo de gordura animal, tabagismo, sedentarismo são factores primordiais para o desenvolvimento de cardiopatias. No entanto, este povo revelou uma baixa incidência de doenças cardiovasculares devido ao consumo moderado e regular de vinho tinto às refeições (Béliveau e Gringas, 2007; Sun et al., 2002).
A OMS (Organização Mundial de Saúde) confirmou através do projecto Mónica (Estudo Multinacional de Tendências e Determinantes de Doença Cardiovascular) que o nível de mortalidade provocado pelas doenças cardiovasculares era muito menor em França do que noutros países que também apresentam um menor consumo de vinho tinto. Os franceses consomem 7,6 vezes mais vinho que a população norte americana e 3 a 13 vezes mais vinho que a restante população europeia (Criqui e Ringel, 1994).
Renauld e Lorgeril (Renauld et al., 1992) afirmaram que a ingestão de 3 a 5 doses de vinho por dia reduz para 49% o índice de mortalidade por doenças cardiovasculares. Neste estudo, confirmaram que a ingestão moderada de vinho é capaz de inibir certos tipos de cancro e doenças inflamatórias. Pignatelli et al. em 2006, também veio confirmar esta teoria.
A sociedade em geral, o consumidor, a comunidade científica, as agências reguladoras e a comunicação social têm vindo a desenvolver uma nova consciência em relação à correlação que existe entre saúde e hábitos alimentares. O facto de alguns alimentos (os chamados alimentos funcionais) apresentarem funções benéficas para a saúde, além da sua função nutricional básica, é um argumento importante para que este alimento tenha um lugar destacado no mercado e que estas informações constem nos respectivos rótulos.
Sendo o vinho um alimento funcional, é imperativo que as suas propriedades nutracêuticas venham mencionadas nos rótulos, orientando assim os consumidores para as qualidades específicas deste produto.
No próximo texto, vou-vos falar do resveratrol, um polifenol pertencente à classe dos estilbenos. Estes compostos são outra família mais complexa de compostos fenólicos presentes em uvas e vinhos e têm despertado muito interesse na comunidade científica devido às propriedades fitofarmacêuticas que lhes são atribuídas (Simann e Creay, 1992). Estes actuam como fitoalexinas relativamente às plantas que os formam, ou seja, protegem-nas de infecções microbianas ou dos efeitos nocivos da radiação ultravioleta. Na última década surgiram diversos estudos que demonstraram que estes compostos são benéficos para a saúde humana devido às suas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, anti-tumorais e aos seus efeitos cardio e neuro-protectores.
Fiquem atentos ao próximo texto!
Bebam vinho, com moderação! Pela vossa saúde!